Estudo aborda expansão do vírus Oropouche
Pelas assessorias da Fiocruz Paraná e Pernambuco
A expansão do vírus Oropouche (OROV) para regiões fora da Amazônia brasileira foi o foco do artigo intitulado “Expansion of Oropouche virus in non-endemic Brazilian regions: analysis of genomic characterisation and ecological drivers”, publicado em 15 de novembro na revista científica The Lancet Infectious Diseases. O estudo, integrado por pesquisadores do Laboratório de Virologia Molecular da Fiocruz Paraná e de outras unidades que fazem parte da Rede Genômica Fiocruz, analisou as características genéticas do vírus e os fatores ecológicos que impulsionaram a disseminação do vírus em 2024.
A Fiocruz Pernambuco integra essa rede e tem o pesquisador Gabriel Wallau como um dos autores do artigo, além de pesquisadores do Serviço de Referência de Arboviroses (SRA) , Clarice Morais e Bartolomeu Acioli, do Departamento de Entomologia, Marcelo Paiva, do Departamento de Microbiologia, Matheus Bezerra e do Núcleo de Bioinformática, Túlio Campos.
O OROV é transmitido pela picada do Culicoides sp., popularmente conhecido como maruim ou mosquito pólvora, e tem histórico de surtos mais restritos à região amazônica. No entanto, no início de 2024, uma cepa que estava causando surtos na região Amazônica em 2023 foi detectada causando surtos em outras regiões do Brasil. O estudo revelou que fora da região Amazônica, as cidades menores enfrentaram surtos até quatro vezes maiores do que os registrados em grandes centros urbanos. A pesquisa associa essa dinâmica à proximidade de culturas agrícolas específicas, como plantações de bananas, que criam um ambiente propício para a proliferação do inseto vetor, como evidenciado em municípios como o de Jaqueira no estado de Pernambuco. “Nosso estudo evidencia como as mudanças nos padrões ecológicos e de uso da terra podem influenciar a dinâmica de transmissão do OROV, criando novos desafios para a saúde pública em áreas historicamente não afetadas,” destacou o pesquisador da Fiocruz Paraná, Tiago Gräf.
Além disso, através de análises genômicas, o estudo descreve a dispersão da nova variante recombinante do OROV pelo Brasil, estabelecendo transmissão local em diversos estados e, também, adquirindo novas mutações cujo impacto biológico ainda precisa ser investigado.
Apesar das descobertas, os autores ressaltam que as causas exatas da expansão repentina do vírus permanecem incertas. “Existe uma nova variante do vírus que está circulando e ela pode ser mais transmissível, mas também há todo o contexto de mudanças climáticas e crescente degradação dos ecossistemas pelo ser humano”, lembrou Cláudia Nunes Duarte dos Santos, que também é autora do trabalho.
“É importante ressaltar que neste estudo estabelecemos a transmissão local do vírus no estado de Pernambuco e mostramos que os casos em humanos ocorreram a partir das mesmas linhagens que estavam circulando no Norte do país”, declarou Gabriel Wallau. Os estudos continuam para melhor caracterizar o surto dentro do estado tanto no que se refere a dinâmica de espalhamento quanto a qualquer associação com transmissão vertical e morte fetal que já foram caracterizadas no estado. “Atualmente temos mais de 40 genomas virais gerados a partir de pacientes infectados no estado, que já foram depositados em bancos de dados públicos, e as análises então em andamento para serem divulgadas em uma futura publicação. Estes trabalhos estão sendo realizados devido ao aprimoramento da colaboração com o Lacen-PE e a Secretaria de Saúde de Pernambuco para responder a surtos de novos vírus no estado utilizando também a ferramenta da vigilância genômica de alta resolução”, completou o pesquisador.
O estudo enfatiza a necessidade de mais pesquisas para compreender melhor o fenômeno e guiar futuras campanhas de saúde pública voltadas à prevenção e controle de novos surtos de OROV em regiões extra Amazônicas. A publicação reafirma o papel da Fiocruz como referência em estudos de virologia e em iniciativas voltadas à saúde pública, evidenciando o impacto do trabalho desenvolvido na instituição para a compreensão e enfrentamento de doenças emergentes.