Institucional

Estudo investiga impactos do desastre do petróleo e da pandemia de Covid-19 entre pescadores

Publicado em 06 de Dezembro de 2021

Poucos meses depois do desastre ambiental causado pelo petróleo bruto que invadiu praias do litoral nordestino em agosto de 2019 - considerado o mais grave derramamento ocorrido no litoral do Brasil - pescadores e marisqueiras das 16 cidades litorâneas de Pernambuco atingidas pelo acidente se depararam com outra calamidade: a pandemia da Covid-19. Com o vazamento do petróleo essa população teve o seu sustento comprometido, pois não podiam exercer suas atividades no mar e nos mangues; viram a biodiversidade desses ecossistemas serem afetados, e, ao colaborar com a retirada do produto nas praias, sem o uso de equipamentos de proteção, foram expostos ao petróleo bruto, que pode causar distúrbios respiratórios, neurológicos e psíquicos. Na pandemia, muitos dos problemas consequentes do desastre foram agravados. Diante desse cenário, pesquisadores e estudantes de pós-graduação, ligados ao Laboratório de Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente (Lasat) da Fiocruz Pernambuco, estão investigando como está a saúde e em que condições socioambientais vive essa população no contexto atual.

 

Para desenvolvimento do estudo serão entrevistadas 1.200 pessoas escolhidas em sorteio aleatório, e realizados círculos de cultura, para sistematização de propostas de reparação integral, estudo cartográfico e entrevistas com gestores da saúde dos municípios. O projeto, intitulado Desastre do petróleo e Saúde dos povos das águas, começou suas atividades de campo em outubro deste ano, na colônia de pescadores de Gaibu, no Cabo de Santo Agostinho, onde 24 pessoas responderam ao questionário da entrevista, feita com o uso de tablets. 

 

As perguntas são referentes a questões socioeconômicas, organização do trabalho, exposição ao petróleo durante a remoção das manchas e posteriormente no trabalho da pesca; ao consumo de pescados após o desastre e percepção do impacto do derramamento de óleo, entre outras questões. O objetivo é identificar a percepção dos entrevistados sobre a saúde que têm hoje, diante da pandemia da Covid-19, e como ficou depois do desastre.

 

O questionário aplicado nessas entrevistas é o mesmo usado pela Universidade Federal da Bahia no estudo Avaliação dos impactos do derramamento do óleo na costa da Bahia - ações de saúde e proteção ambiental, apoiado pela Universidade da Carolina do Norte (EU).  “A entrevista com os gestores tem outra finalidade. Queremos identificar como os municípios estão se preparando para viver situações semelhantes à de 2019”, explica uma das coordenadoras do estudo, a pesquisadora Mariana Olívia. 

 

No Cabo, as marisqueiras também foram atendidas por uma médica. Houve relatos de problemas ginecológicos, por conta do contato com a água contaminada, e de abalo sobre a saúde mental devido à chegada do petróleo nos locais de trabalho. A ação foi promovida com apoio do Fórum Suape, organização não governamental atuante nos territórios pesqueiros do Cabo e de Ipojuca. Em novembro, o trabalho ocorreu em Tamandaré, Ipojuca e Rio Formoso. No total, 118 pescadores e marisqueiras foram entrevistadas nas quatro cidades. Na próxima semana (06 a 10/12) será a vez de Barreiros e de Sirinhaém, quando serão realizadas entrevistas do inquérito epidemiológico e terão seguimento os grupos focais no município do Cabo, com grupos de mulheres e círculos de cultura.

 

 

Nos círculos de cultura, a proposta é refletir sobre os danos e as perdas materiais e simbólicas decorrentes do derramamento de petróleo. Pensar o que a comunidade enxerga como medidas de reparação e quais as estratégias para viabilizá-las, que pode ser fontes de renda alternativas, redes de fortalecimento comunitário ou reivindicação de direitos, entre outras possibilidades.

 

No estudo cartográfico serão produzidos mapas socioambientais, de conflitos, danos e mapas históricos, que retratem a percepção da comunidade sobre o território e os impactos do desastre ambiental analisado. Essa cartografia será desenhada com base nas oficinas a serem promovidas em pelo menos três municípios de cada litoral (norte, sul e metropolitano), com a participação de 20 pescadores e marisqueiras, em cada uma delas.

 

A pesquisa Desastre do petróleo – Saúde dos povos das águas é financiada pelo edital Territórios Sustentáveis Saudáveis do Programa Inova Fiocruz e pelo Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS/Facepe). A coordenação é da pesquisadora do Departamento de Saúde Coletiva da Fiocruz PE Idê Gurgel.