Institucional

Inovações aprimoram a vigilância contra a peste

Publicado em 26 de Junho de 2025

Dentro da sua missão de contribuir para a vigilância da peste bubônica no país, o Serviço de Referência em Peste (SRP) da Fiocruz Pernambuco realiza uma série de treinamentos com profissionais de saúde de diversos municípios brasileiros, utilizando ferramentas inovadoras.

 

Com o apoio do Ministério da Saúde, a equipe do SRP tem se deslocado para locais onde possam existir focos naturais da doença e fornecido capacitação no uso do teste rápido para peste em animais. Trata-se de uma inovação desenvolvida pela equipe do Serviço de Referência, em parceria com a unidade de Bio-Manguinhos da Fiocruz. O teste é aplicado em cães, dos quais são coletadas algumas gotas de sangue, que são misturadas ao reagente disponível na ferramenta. Em poucos minutos o resultado é revelado a olho nu, sem precisar de equipamentos especiais nem do deslocamento para um laboratório.

 

Em paralelo, os profissionais estão sendo instruídos no uso da ferramenta SISS-Geo (Sistema de Informação em Saúde Silvestre). Trata-se de um aplicativo que permite cadastrar e georreferenciar as amostras testadas em campo. Desenvolvido pela Plataforma Institucional Biodiversidade e Saúde Silvestre da Fiocruz - com apoio do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC/MCTI) - o SISS-Geo permite registrar dados com a localização exata, mesmo quando a coleta é feita em áreas sem serviço de internet. O dado colhido em campo é incorporado ao sistema assim que se chega a uma área com internet, mantendo as coordenadas geográficas do ponto de coleta, obtido pelo GPS. As informações geradas já ficam imediatamente disponíveis para uso pelos municípios, estados e Governo Federal.  A partir desses dados, o SISS-Geo pode disparar alertas, fazer modelagens e indicar uma possível situação atípica que mereça uma maior atuação dos serviços de saúde.

 

Esse trabalho, que havia sido iniciado no final de 2024, na localidade de Virgem da Lapa (MG), prosseguiu neste mês de junho em três municípios pernambucanos: Exu, Triunfo e Santa Cruz da Baixa Verde. Nessa etapa, um total de 34 agentes de saúde e de endemias foram treinados e colaboraram na coleta e testagem de 159 cães. “Os cães que testarem positivo não desenvolvem sintomas importantes nem são transmissores da doença, portanto não precisam ser sacrificados. Pelo contrário, eles são sentinelas valiosos para a vigilância da doença, indicando onde há circulação do agente causador da peste em animais silvestres”, explica o microbiologista da Fiocruz PE e integrante do SRP Matheus Bezerra.  

 

Além da capacitação, a equipe também realizou uma ação de divulgação científica junto aos estudantes e professores da Escola de Referência de Ensino Médio (EREM) Barão de Exu. A ação, liderada pela pesquisadora Marise Sobreira, levou à escola equipamentos de laboratório e peças do acervo do Serviço de Referência, como material de laboratório, máscaras utilizadas antigamente e esculturas impressas em 3D da bactéria causadora da doença e do vetor.

 

Embora atualmente seja rara no Brasil, a peste bubônica ainda é uma preocupação de saúde pública. A doença, causada pela bactéria Yersinia pestis e transmitida por pulgas que parasitam roedores, pode ser fatal tanto para humanos quanto para animais – em especial gatos - se não tratada rapidamente.

 

A consultora técnica da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Marília Lavocat, considera um risco o fato da vigilância da peste no Brasil ter passado por um longo período de estagnação, considerando que a presença de focos naturais da doença ainda é uma realidade em algumas regiões do país. Ela lembra que um dos princípios básicos da vigilância de zoonoses como a peste é o acompanhamento contínuo das áreas focais, justamente para detectar precocemente qualquer sinal de reativação da transmissão. “Com as transformações ambientais nas áreas historicamente endêmicas e a saída de muitos profissionais especializados, tornou-se essencial retomar essas ações com uma nova abordagem. Estamos redefinindo objetivos, incorporando novas tecnologias e capacitando equipes locais para fortalecer o monitoramento, a detecção precoce e a resposta rápida. A retomada da vigilância da peste é uma medida preventiva estratégica, alinhada com os princípios da vigilância em saúde pública, para proteger as populações expostas e evitar o risco de reemergência da doença”, declarou.

 

Os próximos estados a receberem essa iniciativa, que conjuga ações de capacitação de recursos humanos, pesquisa, vigilância em saúde e divulgação científica, serão Alagoas e Bahia, a partir do mês de agosto.