Institucional

Licença Maternidade pode ser registrada no Currículo Lattes

Publicado em 15 de Abril de 2021

Hoje, 15 de abril de 2021, marca uma grande (e desejada) conquista das mulheres cientistas: a partir dessa data o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq incluiu no currículo Lattes, um campo para registro para a licença maternidade.

 

Essa é uma conquista do movimento feminista, da comunidade científica e de instituições parceiras do CNPq, em especial, do Movimento Parent in Science. Foi esse movimento que liderou, a partir do I Simpósio Brasileiro sobre Maternidade e Ciência, ocorrido em Porto Alegre (RS), em maio de 2018, a campanha #maternidadenolattes. Foi também o Parente que apresentou ao Conselho, órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia, a proposta de inclusão do registro no currículo Lattes, reconhecendo que a maternidade deve ser considerada para fins de avaliações de currículo, em editais de fomento à pesquisa e bolsas. Hoje, a Plataforma Lattes é uma das mais importantes no registro da trajetória acadêmica nacional. 

Talita Rodrigues é aluna do curso de mestrado em Saúde Coletiva, na Fiocruz Pernambuco. Mãe de um garoto de 5 meses de vida, Talita festejou a notícia da inserção da licença-maternidade no Lattes. “Para nós, mulheres que estamos na academia, que temos feito esse investimento profissional, poder considerar a licença maternidade no Lattes é um ganho imenso”. Ela pontua que a chegada de um bebê transforma a vida do casal. “A chegada do bebê cobra da gente outra postura, outra forma de organização, frente ao mundo e frente a nossa vida profissional. Essa exigência, muitas vezes, faz com que nós, mães, não consigamos produzir na mesma medida que os demais pesquisadores. Na minha experiência pessoal, a minha formação acadêmica tem sofrido um impacto grande, desde a gravidez. Gestar um bebê durante a pandemia do covid-19 é um desafio à parte. O retorno ao trabalho nesse momento - que a gente não consegue ter a mesma rede de apoio, não consegue ter um lugar para deixar nossos bebês, a questão do isolamento social, o cuidado com essa criança etc., é um momento muito particular. Desorganiza muito o ritmo que a gente vinha construindo antes da maternidade.

Talita Rodrigues e seu filho Laodirê

 

O reconhecimento do CNPq desse momento de maternar na academia, é de um ganho político imenso e demonstra um resultado da luta de muitas mulheres que vieram antes de nós e que têm demonstrado o impacto que a maternidade causa na academia”, celebrou a mestranda.

 

Já a vice-diretora de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Serviços de Referência da Fiocruz Pernambuco, Constância Ayres, embora também reconheça a decisão como uma importante conquista, chama a atenção para o desafio maior que transformar isso em ações práticas. “A inclusão da licença maternidade vai permitir, num processo avaliativo das carreiras de homens e mulheres, entender o porquê da possível diminuição na produção feminina porque sabemos que o período da licença maternidade, onde a mãe tem que cuidar do bebê, amamentar, entre outras coisas, tem um impacto. Por exemplo, quando uma aluna termina um mestrado e vai tentar a seleção para um doutorado, esse período que ela passou de licença maternidade, que ela poderia estar escrevendo um artigo, fazendo uma publicação, fica prejudicado. Cabe a nós, instituições de ensino e pesquisas, considerar isso e poder transformar esse dado em novos indicadores. Agora, ao fazermos os processos avaliativos dos estudantes, dos profissionais, teremos que levar em consideração esse tempo que a pessoa ficou parada na vida acadêmica”, ponderou a gestora.

 

Essa opinião também é compartilhada pela Coordenadora Geral de Educação-Adjunta da Vice-Presidência de Educação Informação e Comunicação da Fiocruz, Eduarda Cesse. “Há muito sabe-se que a produção científica das cientistas é reduzida quando do nascimento de seus filhos e filhas, repercutindo, particularmente na sua avaliação pelos órgãos de fomento. Dois anos após essa discussão, o CNPq incluiu a maternidade no Lattes e essa conquista deve ser comemorada e divulgada. No entanto, a luta não acaba aqui. Essa conquista deve servir de motivação para que outras lutas garantam conciliar a maternidade e a carreira da mulher/mãe. Lugar de mulher é onde ela quiser. Por mais conquistas que permitam justiça e igualdade para as mulheres”, concluiu.

Com informações do CNPq