Institucional

Um balanço de histórias, afetos e inovações nos 35 anos do Nesc

Publicado em 26 de Setembro de 2022

Lembranças pessoais, envolvidas em muitos afetos e solidariedade, entrelaçadas com as contribuições e inovações que fazem o Departamento de Saúde Coletiva (Nesc) do IAM ser o que é hoje. Tudo isso esteve presente no evento comemorativo aos 35 anos desse departamento, ocorrido na sexta-feira (23/09), no qual o público teve a oportunidade de se emocionar e viajar no tempo, por meio dos depoimentos de quem ajudou a construir essa história e foi homenageado por seus méritos.


Na abertura, o diretor do IAM, Pedro Miguel Neto, falou do Nesc como uma obra histórica, feita por pessoas, muitas das quais já não se encontram mais por aqui. “É importante a gente ter sempre essa memória, como se fosse uma família que vai deixando gerações e gerações, apostando que os frutos sempre serão melhores”, refletiu. O diretor lembrou ainda que todos estão aqui de passagem. “A Fiocruz tem 122 anos e o Nesc, 35. Temos a obrigação de garantir muito mais futuro para essas instituições, apesar da gente não poder acompanhá-las no tempo”, convidou.


Primeira homenageada a falar, Maria de Fátima Militão contou com a ajuda da chefe do Nesc, Naíde Teodósio (à direita da foto, ao lado de Fátima), para ler o seu “Memorial acadêmico afetivo avisa lá que eu vou” (uma vez que estava quase sem voz, resquício de uma virose já curada). “Posso dizer que a cada momento senti um prazer imenso nessa caminhada. Acho que não existe um só caminho profissional. Somos movidos por nossas escolhas e essas escolhas são frutos de desejos, acasos e necessidades. Necessidade de fazer bem feito, necessidade de aprender, necessidade de cuidar”, declarou no documento, mesclando os registros do trabalho desenvolvido com os “causos” pessoais narrados com leveza e bom humor.

 

 


Em seguida foi apresentado o depoimento em vídeo do pesquisador Antônio Mendes, que não pode estar presente devido a viagem. Ele abordou os movimentos que marcaram os primórdios da saúde pública no país, em meados da década de 80, ainda em plena ditadura militar, e resgatou as origens do Nesc, com a trajetória de luta que marcou a sua fundação e a consolidação do trabalho ali desenvolvido. Nesse contexto, destacou a importância do pesquisador e ex-diretor do IAM, Eduardo Freese. “Uma figura fundamental aqui em Pernambuco. Sem ele não haveria Nesc”, considerou.

 

 

O pesquisador Wayner Souza trouxe uma panorâmica de sua vida profissional e acadêmica, apontando os momentos de turbulência vividos. “É uma trajetória que tem uma direção da cabeça da gente, da nossa visão de mundo, de vida, de propostas, mas que tem alguns acidentes de percurso também.  A gente não governa tudo o tempo todo”, lembrou. Entre as memórias apresentadas, Wayner relatou seu retorno ao Rio de Janeiro, ao encerrar a pós-graduação em Saúde Pública em São Paulo, num período marcado pela Nova República e, em suas palavras, “extraordinário” na área da Saúde, com a ascensão de lideranças como José Hermógenes, na Fundação Sesp, e Sérgio Arouca na Fiocruz, alguns dos pilares da Reforma Sanitária brasileira. Sua vinda para o Nesc se deu em 1992, para trabalhar na administração de dados do inquérito de filariose realizado àquela época, um campo cuja importância e impacto do trabalho desenvolvido no IAM tem reflexos até hoje.

 


Outro relato em formato de vídeo foi feito pela pesquisadora Ana Brito, que se encontra em Portugal. Ela contou um pouco de sua história de vida como imigrante da seca, que fez um grande esforço para ser autossustentável durante seus estudos no Recife. “A saúde coletiva sempre foi um campo que me atraiu desde a minha formação na faculdade de medicina”, revelou. Ela descreveu sua atuação no Nesc como dialética, de aluna e professora ao mesmo tempo. E destacou sua contribuição ao incluir as doenças sexualmente transmissíveis (hoje IST/Aids) como tema central de pesquisas no IAM.


Fechando os depoimentos, Lia Giraldo agradeceu a todos, em especial aos pesquisadores Eduardo Freese e André Monteiro, como pessoas fundamentais para seu “pertencimento”, tão necessário ao desenvolvimento das suas atividades de pesquisa e ensino no IAM, desde dezembro de 1995. Ao falar de suas contribuições, Giraldo recordou uma inspiração que teve para inserir a Epidemiologia como linha de pesquisa na pós-graduação em Saúde Pública, para funcionar como elemento integrador das atividades de todos os departamentos do IAM. O programa, que estava em criação e não havia obtido anteriormente o aval da Capes, sofreu os ajustes, foi reavaliado e aprovado. Outra inovação apontada foi a criação do Laboratório de Saúde, Ambiente e Trabalho (Lasat), o segundo a ser criado em todo o país com esse formato. “Esse processo nos levou a novos campos de conhecimento, saberes... Nos sintonizamos com o movimento ambientalista vanguardista nacional e com os movimentos sociais. É uma marca desse laboratório,” explicou.


A anfitriã do encontro, Naíde Teodósio, destacou investimentos na formação de pessoas para o SUS ao longo desses 35 anos, além das pesquisas desenvolvidas em diversas áreas e do importante papel de cooperação técnica desenvolvido pelo departamento. Chamando a atenção de todos para a imagem escolhida para ilustrar o cartaz do evento (ao lado), Teodósio falou sobre esse fazer ciência na comunidade e em defesa do SUS, que é a marca do Nesc. “Nosso laboratório é o mundo, nosso laboratório é lá fora”, enfatizou.


A vice-diretora de Ensino, Idê Gurgel, destacou a trajetória de luta dos cinco homenageados. “O legado que vem sendo construído por essas pessoas e por outras que as antecederam, tem uma permanência. A história dessas cinco pessoas abrilhanta ainda mais o nosso aniversário e nos inspira a cada dia a continuar nessa luta constante por um país melhor, com saúde para todos”, declarou. Idê e todos que tiveram a palavra no evento celebraram a nota 5 recebida pelas pós-graduações acadêmicas do IAM, que representou um crescimento no caso de Saúde Pública. Com destaque para programa de pós-graduação profissional, onde a nota 5 obtida representou um nível de excelência, por ser a nota máxima.


Domício Sá (à esquerda da foto, com Naíde e Pedro Miguel), também pesquisador do Nesc, fez e declamou um cordel em homenagem aos 35 anos do departamento. Conheça o poema abaixo:


Estratégia em atitude
Democracia como ideário
Movimento Sanitário
Luta por direito à saúde
NESC pro Aggeu em plenitude
Pela vida, em resistência
Programas de Residência
De Mestrado, Doutorado...
Em Pernambuco um legado
Com história e competência

Ensino e pesquisa ativa
Saberes, cooperação...
Conhecimento em gestão
Com ciência e crítica viva
Pela Saúde Coletiva
Orgulho de ser Fiocruz
Na missão que nos conduz
Pro futuro muitos planos...

NESC faz trinta e cinco anos
Sempre em defesa do SUS

 
Outros depoimentos:


"Acho importante colocar o meu depoimento enquanto egressa desse programa e hoje pesquisadora daqui da casa. Fui discente desse programa: residente, aluna do mestrado e do doutorado. Fui aluna de todos vocês, formada por essa casa. Acho que esse evento é muito importante para a gente reconhecer e valorar os nossos profissionais seniores que realmente têm uma relevância na construção e fortalecimento do SUS. A gente aprendeu muito com vocês. Eu acho que uma coisa que se aprende é coragem. E eu aprendi a ter coragem com vocês. Eu tento reproduzir essa coragem na minha atuação profissional, nas ações de advocacy e de pesquisa, porque sem coragem a gente não consegue avançar na nossa atuação, especialmente quando a gente tem que passar por tantos desafios e enfrentamentos no campo político. Eu queria agradecer pelos ensinamentos. Muito obrigada!"

Aline Gurgel, pesquisadora da Fiocruz PE

 

"Lembro que quando eu ainda era estudante de uma instituição filantrópica. Eu chegava para estudar aí nessa biblioteca (Biblioteca da Saúde – UFPE) e eu dizia: Meu Deus, ainda vou estudar ali! Para mim está sendo muito especial estar aqui agora. Fui aluna de vários professores que aqui estão e continuo me espelhando. A gente se espelha em vocês para a vida, não só a nível acadêmico. Professor Toinho aí falando e eu revendo todo esse filme. Eu estava lá na epidemiologia, em 2002, quando foi a epidemia da dengue. A gente, com a sorologia, ia nas casas do Coque, Coelhos, Santo Amaro. Eu fiz parte disso. Estar aqui para mim é muito importante e muita responsabilidade."


Naércia Santos, aluna do doutorado acadêmico e egressa do mestrado profissional em Saúde Pública


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